sábado, 14 de abril de 2012

Modificadores & Tipos Textuais (Exercícios)


Texto I:
Rita havia parado em meio do pátio. Cercavam-na, homens, mulheres e crianças; todos queriam novas dela. Não vinha em trajo de domingo; trazia casaquinho branco; uma saia que lhe deixava ver o pé sem meia num chinelo de polimento com enfeites de marroquim de diversas cores. No seu farto cabelo crespo e reluzente, puxado sobre a nuca havia um molho de manjericão e um pedaço de baunilha espetado por um gancho. E toda ela respira o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano, respondia para a direita e para a esquerda, pondo a mostra um fio de dentes claros e brilhantes que enriqueciam sua fisionomia com realce fascinador.
AZEVEDO, ALUÍSIO. O Cortiço. Ed. São Paulo. 1975

1-    Na situação relatada no texto, Rita Baiana estava parada em meio ao pátio.
a)    Como ela estava vestida?
b)    Como era seu cabelo? Qual é a classe gramatical das palavras usadas para caracterizar o cabelo da personagem?
c)    O que os dentes claros e brilhantes da personagem realçavam?

2-    Um texto descritivo pode apresentar comparações e fazer referência a impressões sensitivas, como cores, formas, cheiros, impressões táteis, sons, etc.
a)    A que o narrador compara o asseio de Rita?
b)    Que odor ela exalava?

3-    Rita é descrita pelo narrador como irrequieta.
a)    Essa característica diz respeito a um aspecto específico ou psicológico da personagem?
b)    Como Rita Baiana demonstra essa característica do seu temperamento?

4-    Nos trechos “seu farto cabelo crespo e reluzente”, “trajo de domingo”, “pé sem meia”, “molho de manjericão”, qual é a classe gramatical das palavras e expressões destacadas?


Texto II:
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos — e daquelas ferozes (...).
(Monteiro Lobato)


5-    O narrador emprega duas vezes um mesmo adjetivo para caracterizar dona Inácia. Identifique-o e explique a diferença de sentido que ele apresenta nas duas ocorrências.


6-    É válido afirmar que o narrador foi contraditório ao empregar o referido adjetivo para descrever a personagem? Justifique.


Texto III:
Estar em todas, ser ninguém.
Há um momento em que você se destaca do mundo dos anônimos. É quando tem o nome nas legendas. Muitos têm nome, no entanto ficam numa posição incômoda, perigosa. É quando o leitor pergunta: esse quem é? O que é? O que faz?
Se não existe resposta, depois de algum tempo você entra para a catalogação perigosa de quem está em todas e não é nada. Torna-se uma daquelas pessoas simpáticas, sorridentes, animadas, divertidas, bem vestidas, que descolam convites para todos os acontecimentos, freqüentam, mas não têm ofício, profissão, carreira, função específica. Freqüentam, são colunáveis.
Outro dia, ouvi uma definição que me enregelou:
“Toda corte tem seus bobos, os reis tinham, os poderosos hoje têm”. Palhaços modernos fazem gracinhas, alegram o ambiente, distraem, sabem servir a uma mulher, acender um cigarro, dançam todos os ritmos, do bolero ao Techno, estão informados de tudo, navegam na internet, assinam revistas econômicas, discorrem sobre as tendências atuais, conhecem palavras recém-criadas.
Uma pessoa realmente famosa tem de tomar cuidado para não se misturar. Deve aceitar os bobos da corte, mas se puder evitar a convivência, melhor. Eles dirão que são seus amigos.
Todavia, os que participam do jogo possuem um acordo; a fraude é aceita e compreendida e como tal elogiam a audácia, admiram a artimanha.
Os que participam dessas manobras sabem separar o que é real do que é sucesso/paranóia da mídia, síndrome de aparecer.
Nessa vida é que pretendo penetrar, nesse covil, como li um dia. É uma batalha que não permite acomodação, conformismo, conforto, a menos que você seja autodestruidor e se condene ao fracasso.
Deve-se acordar planejando o dia, dormir programando o “Day after”, porque o tempo inteiro é um “Day after, and after, after”.
O que mata, o suicídio lento, o envenenar gradual é a vida que levo agora. Quando não sou nada sendo. Passo o dia a imaginar, a montar estratégias que me permitam ser o que pretendo.
Sofro o que poucos seres humanos sofreram, recolhido a este camarim 101, indigno, ainda que bastante espaçoso, quase uma suíte, rodeado de livros e cadernos que abrigam o organograma perfeito para o vir a ser.
Como adoraria ver a imprensa falando mal de mim. As discussões, o tema das mesas.
(Ignácio de Loyola Brandão, O anônimo célebre – reality romance).

7-    Em relação ao personagem, identifique a alternativa que não é adequada.
a)    Tem horror à crítica.
b)    Teme não ser reconhecido em fotos.
c)    Quer o sucesso a qualquer preço.
d)    Não é uma pessoa escrupulosa.
e)    Conhece as estratégias da fama.


8-    Identifique a estratégia que não foi usada na organização do texto.
a)    Sequência argumentativa para defender pontos de vista.
b)    Sequência instrucional para ensinar estratégias da fama.
c)    Sequência narrativa em ordem cronológica e uso de diálogos.
d)    Sequência descritiva para descrever os candidatos à fama.

Texto IV:
A HONRA PASSADA A LIMPO
Sou compulsiva, eu sei. Limpeza e arrumação. Todos os
dias boto a mesa, tiro a mesa. Café, almoço, jantar. E pilhas
de louça na pia, e espumas redentoras.
Todos os dias entro nos quartos, desfaço camas,
desarrumo berços, lençóis ao alto como velas. Para tudo
arrumar depois, alisando colchas de croché.
Sou caprichosa, eu sei. Desce o pó sobre os móveis. Que
eu colho na flanela. Escurecem-se os pratos. Que eu esfrego
com a camurça. A aranha tece. Que eu enxoto. A traça rói.
Que eu esmago.
O cupim voa. Que eu afogo na água da tigela sob a luz.
E de vassoura em punho gasto tapetes persas.
Sou perseverante, eu sei. À mesa que ponho ninguém
senta. Nas camas que arrumo ninguém dorme. Não há ninguém
nesta casa, vazia há tanto tempo.
Mas, sem tarefas domésticas, como preencher de feminina
honradez a minha vida?
(Contos de amor rasgados – Marina Colasanti)

Texto V:
Tentando se segurar numa alça lilás
Entrou no elevador.
A um canto, outra mulher segurava firme debaixo do braço uma enorme bolsa de couro lilás.
"Que ousadia, uma bolsa lilás - sorriu ela.
"Acabei de dizer a um homem que o amo - respondeu a outra. "Então entrei numa loja e, entre todas, escolhi essa bolsa. Eu precisava sentir nas mãos a minha audácia.
Não sorriu. Agarrou-se na alça.
(Marina Colasanti)


9-    Nos dois contos, há um narrador, ou seja, alguém que conta a história. Em qual dos contos o narrador é observador, isto é, conta os fatos sem participar deles como personagem?


10-  O emprego de um tipo de narrador ou ponto de vista narrativo produz nos textos diferentes efeitos de sentidos. Comparando os dois textos, diga qual deles possibilita ao leitor situar-se dentro da narrativa. Por que isso acontece?


Tutor Fabiano (PEN)



Gabarito:
1-
a)    Ela usava um casaquinho branco, saia, chinelos enfeitados.
b)    Farto, crespo, reluzente. Adjetivos.
c)    Sua fisionomia.


2-
a)    Ao asseio das brasileiras.
b)    Um odor sensual de trevos e plantas aromáticas.


3-
a)    A um aspecto psicológico.
b)    Saracoteando o quadril.


4- Farto, crespo e reluzente: adjetivos. De domingo, sem meia e de manjericão: locuções adjetivas.


5- O adjetivo “excelente”. No primeiro caso, significa “muito boa”, “de boas qualidades”. No segundo, tem sentido irônico, pois entra em contradição com a verdadeira personalidade de dona Inácia, uma mulher cruel com as crianças.


6- Não. No primeiro caso, quem considera dona Inácia “excelente” não é o narrador, e sim as pessoas que convivem com ela. No segundo caso, é a visão do narrador, que ironiza a opinião das demais pessoas.


7- Opção A.


8- Opção C.


9- No segundo conto.


10- O primeiro conto. Como o texto é narrado em 1ª pessoa, o leitor vê o mundo pela ótica do narrador.

2 comentários:

  1. Discordo que o narrador de Negrinha seja observador, tendo em vista que ele interfere sim na narrativa e, inclusive, há momentos em que a fala dele se amalgama com a fala da protagonista, cedendo-lhe "voz".

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  2. Portanto, acredito fielmente que ele seja um narrador onisciente.

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