Texto I:
Rita
havia parado em meio do pátio. Cercavam-na, homens, mulheres e crianças; todos
queriam novas dela. Não vinha em trajo de domingo; trazia casaquinho branco;
uma saia que lhe deixava ver o pé sem meia num chinelo de polimento com
enfeites de marroquim de diversas cores. No seu farto cabelo crespo e
reluzente, puxado sobre a nuca havia um molho de manjericão e um pedaço de
baunilha espetado por um gancho. E toda ela respira o asseio das brasileiras e
um odor sensual de trevos e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o
atrevido e rijo quadril baiano, respondia para a direita e para a esquerda,
pondo a mostra um fio de dentes claros e brilhantes que enriqueciam sua
fisionomia com realce fascinador.
AZEVEDO, ALUÍSIO. O Cortiço. Ed. São
Paulo. 1975
1- Na
situação relatada no texto, Rita Baiana estava parada em meio ao pátio.
a) Como
ela estava vestida?
b) Como
era seu cabelo? Qual é a classe gramatical das palavras usadas para
caracterizar o cabelo da personagem?
c) O
que os dentes claros e brilhantes da personagem realçavam?
2- Um
texto descritivo pode apresentar comparações e fazer referência a impressões
sensitivas, como cores, formas, cheiros, impressões táteis, sons, etc.
a) A
que o narrador compara o asseio de Rita?
b) Que
odor ela exalava?
3- Rita
é descrita pelo narrador como irrequieta.
a) Essa
característica diz respeito a um aspecto específico ou psicológico da
personagem?
b) Como
Rita Baiana demonstra essa característica do seu temperamento?
4- Nos
trechos “seu farto cabelo crespo e reluzente”, “trajo de domingo”,
“pé sem meia”, “molho de manjericão”, qual é a classe
gramatical das palavras e expressões destacadas?
Texto II:
Negrinha era
uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos
ruços e olhos assustados.
Nascera na
senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera pelos cantos escuros da
cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa
não gostava de crianças.
Excelente
senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo
na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono
(uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o
vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma —
“dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o
reverendo.
A excelente
dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora
senhora de escravos — e daquelas ferozes (...).
(Monteiro Lobato)
5- O narrador emprega duas vezes um mesmo adjetivo para caracterizar dona Inácia. Identifique-o e explique a diferença de sentido que ele apresenta nas duas ocorrências.
6- É válido afirmar que o narrador foi contraditório ao empregar o referido adjetivo para descrever a personagem? Justifique.
Texto III:
Estar em todas, ser ninguém.
Há
um momento em que você se destaca do mundo dos anônimos. É quando tem o nome
nas legendas. Muitos têm nome, no entanto ficam numa posição incômoda,
perigosa. É quando o leitor pergunta: esse quem é? O que é? O que faz?
Se
não existe resposta, depois de algum tempo você entra para a catalogação
perigosa de quem está em todas e não é nada. Torna-se uma daquelas pessoas
simpáticas, sorridentes, animadas, divertidas, bem vestidas, que descolam
convites para todos os acontecimentos, freqüentam, mas não têm ofício,
profissão, carreira, função específica. Freqüentam, são colunáveis.
Outro
dia, ouvi uma definição que me enregelou:
“Toda
corte tem seus bobos, os reis tinham, os poderosos hoje têm”. Palhaços modernos
fazem gracinhas, alegram o ambiente, distraem, sabem servir a uma mulher,
acender um cigarro, dançam todos os ritmos, do bolero ao Techno, estão
informados de tudo, navegam na internet, assinam revistas econômicas, discorrem
sobre as tendências atuais, conhecem palavras recém-criadas.
Uma
pessoa realmente famosa tem de tomar cuidado para não se misturar. Deve aceitar
os bobos da corte, mas se puder evitar a convivência, melhor. Eles dirão que
são seus amigos.
Todavia,
os que participam do jogo possuem um acordo; a fraude é aceita e compreendida e
como tal elogiam a audácia, admiram a artimanha.
Os
que participam dessas manobras sabem separar o que é real do que é
sucesso/paranóia da mídia, síndrome de aparecer.
Nessa
vida é que pretendo penetrar, nesse covil, como li um dia. É uma batalha que
não permite acomodação, conformismo, conforto, a menos que você seja
autodestruidor e se condene ao fracasso.
Deve-se
acordar planejando o dia, dormir programando o “Day after”, porque o tempo
inteiro é um “Day after, and after, after”.
O
que mata, o suicídio lento, o envenenar gradual é a vida que levo agora. Quando
não sou nada sendo. Passo o dia a imaginar, a montar estratégias que me
permitam ser o que pretendo.
Sofro
o que poucos seres humanos sofreram, recolhido a este camarim 101, indigno,
ainda que bastante espaçoso, quase uma suíte, rodeado de livros e cadernos que
abrigam o organograma perfeito para o vir a ser.
Como
adoraria ver a imprensa falando mal de mim. As discussões, o tema das mesas.
(Ignácio
de Loyola Brandão, O anônimo célebre –
reality romance).
7- Em relação ao
personagem, identifique a alternativa que não é adequada.
a) Tem horror à crítica.
b) Teme não ser reconhecido em fotos.
c) Quer o sucesso a qualquer preço.
d) Não é uma pessoa escrupulosa.
e) Conhece as estratégias da fama.
8- Identifique a estratégia que não foi usada na organização do texto.
a) Sequência argumentativa para defender pontos de vista.
b) Sequência instrucional para ensinar estratégias da fama.
c) Sequência narrativa em ordem cronológica e uso de diálogos.
d) Sequência descritiva para descrever os candidatos à fama.
a) Tem horror à crítica.
b) Teme não ser reconhecido em fotos.
c) Quer o sucesso a qualquer preço.
d) Não é uma pessoa escrupulosa.
e) Conhece as estratégias da fama.
8- Identifique a estratégia que não foi usada na organização do texto.
a) Sequência argumentativa para defender pontos de vista.
b) Sequência instrucional para ensinar estratégias da fama.
c) Sequência narrativa em ordem cronológica e uso de diálogos.
d) Sequência descritiva para descrever os candidatos à fama.
Texto
IV:
A HONRA
PASSADA A LIMPO
Sou compulsiva, eu sei. Limpeza e
arrumação. Todos os
dias boto a mesa, tiro a mesa. Café,
almoço, jantar. E pilhas
de louça na pia, e espumas redentoras.
Todos os dias entro nos quartos,
desfaço camas,
desarrumo berços, lençóis ao alto como
velas. Para tudo
arrumar depois, alisando colchas de
croché.
Sou caprichosa, eu sei. Desce o pó
sobre os móveis. Que
eu colho na flanela. Escurecem-se os
pratos. Que eu esfrego
com a camurça. A aranha tece. Que eu
enxoto. A traça rói.
Que eu esmago.
O cupim voa. Que eu afogo na água da
tigela sob a luz.
E de vassoura em punho gasto tapetes
persas.
Sou perseverante, eu sei. À mesa que
ponho ninguém
senta. Nas camas que arrumo ninguém
dorme. Não há ninguém
nesta casa, vazia há tanto tempo.
Mas, sem tarefas domésticas, como
preencher de feminina
honradez a minha vida?
(Contos de amor rasgados – Marina
Colasanti)
Texto V:
Tentando se segurar numa alça lilás
Entrou no
elevador.
A um canto, outra mulher segurava firme debaixo do braço uma enorme bolsa de
couro lilás.
"Que ousadia, uma bolsa lilás - sorriu ela.
"Acabei de dizer a um homem que o amo - respondeu a outra. "Então entrei numa loja e, entre todas, escolhi essa bolsa. Eu precisava sentir nas mãos a minha audácia.
Não sorriu. Agarrou-se na alça.
"Que ousadia, uma bolsa lilás - sorriu ela.
"Acabei de dizer a um homem que o amo - respondeu a outra. "Então entrei numa loja e, entre todas, escolhi essa bolsa. Eu precisava sentir nas mãos a minha audácia.
Não sorriu. Agarrou-se na alça.
(Marina
Colasanti)
9- Nos dois contos, há um narrador, ou seja, alguém que conta a história. Em qual dos contos o narrador é observador, isto é, conta os fatos sem participar deles como personagem?
10- O emprego de um tipo de narrador ou ponto de vista narrativo produz nos textos diferentes efeitos de sentidos. Comparando os dois textos, diga qual deles possibilita ao leitor situar-se dentro da narrativa. Por que isso acontece?
Tutor Fabiano (PEN)
Gabarito:
1-
a) Ela usava um casaquinho branco, saia, chinelos enfeitados.
b) Farto, crespo, reluzente. Adjetivos.
c) Sua fisionomia.
2-
a) Ao asseio das brasileiras.
b) Um odor sensual de trevos e plantas aromáticas.
3-
a) A um aspecto psicológico.
b) Saracoteando o quadril.
4- Farto, crespo e reluzente: adjetivos. De domingo, sem meia e de manjericão: locuções adjetivas.
5- O adjetivo “excelente”. No primeiro caso, significa “muito boa”, “de boas qualidades”. No segundo, tem sentido irônico, pois entra em contradição com a verdadeira personalidade de dona Inácia, uma mulher cruel com as crianças.
6- Não. No primeiro caso, quem considera dona Inácia “excelente” não é o narrador, e sim as pessoas que convivem com ela. No segundo caso, é a visão do narrador, que ironiza a opinião das demais pessoas.
7- Opção A.
8- Opção C.
9- No segundo conto.
10- O primeiro conto. Como o texto é narrado em 1ª pessoa, o leitor vê o mundo pela ótica do narrador.
a) Ela usava um casaquinho branco, saia, chinelos enfeitados.
b) Farto, crespo, reluzente. Adjetivos.
c) Sua fisionomia.
2-
a) Ao asseio das brasileiras.
b) Um odor sensual de trevos e plantas aromáticas.
3-
a) A um aspecto psicológico.
b) Saracoteando o quadril.
4- Farto, crespo e reluzente: adjetivos. De domingo, sem meia e de manjericão: locuções adjetivas.
5- O adjetivo “excelente”. No primeiro caso, significa “muito boa”, “de boas qualidades”. No segundo, tem sentido irônico, pois entra em contradição com a verdadeira personalidade de dona Inácia, uma mulher cruel com as crianças.
6- Não. No primeiro caso, quem considera dona Inácia “excelente” não é o narrador, e sim as pessoas que convivem com ela. No segundo caso, é a visão do narrador, que ironiza a opinião das demais pessoas.
7- Opção A.
8- Opção C.
9- No segundo conto.
10- O primeiro conto. Como o texto é narrado em 1ª pessoa, o leitor vê o mundo pela ótica do narrador.
Discordo que o narrador de Negrinha seja observador, tendo em vista que ele interfere sim na narrativa e, inclusive, há momentos em que a fala dele se amalgama com a fala da protagonista, cedendo-lhe "voz".
ResponderExcluirPortanto, acredito fielmente que ele seja um narrador onisciente.
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